Certa vez, em uma excelente aula que tive sobre o Seminário I de Lacan, com o maravilhoso psicanalista e professor Benoit Le Bouteiller, fiz anotações breves, transcrições e comentários poiéticos numa irrupção espontânea artística espiritual. Com essa liberdade, vou compartilhar aqui sem nenhuma pretensão de dar sentidos prontos. 

A aula partia da primeira frase do seminário, que é a seguinte:

“A Busca de sentido” já foi praticada, por exemplo, pelos mestres budistas, com a técnica Zen. O Mestre interrompe o silêncio com qualquer coisa, um sarcasmo, um pontapé.”

(primeira frase seminário I de Lacan).

Com isso aprendi que o Budismo Chan tem reverberações que são óbvias nas articulações teóricas fundamentais de Lacan.

É uma questão de encontros de Lacan com:

Chinólogo e Musicólogo = Paul Demievile

línguas: chinês e sânscrito

entrevistas de Lin Tsi

que ensina Budismo Chan à Lacan, que se sente tocado.

Quem era Lin Tsi?

O budismo Chan, se a gente não compreende como isso teve uma influência em Lacan, é difícil seguir o que Lacan diz. E mais uma vez ele não fala diretamente do budismo Chan.

São diferentes ramos, vertentes, maneiras de ser praticadas, etc.

Lembremos que dhiana, em sânscrito, significa meditação, concentração, contemplação

Há um encontro, no sec V D/C dessa forma de budismo com a cultura chinesa, já marcada, nessa época, pelo TAO. No sec IX Lin Tsi vai radicalizar a dimensão chinesa desse budismo que vem portanto da cultura sânscrita. Ele introduz nesse budismo a dimensão taoísta e adapta verdadeiramente o Budismo Chan ao povo chinês. Budismo Chan no Japão vai se chamar Zen. Tcharam!

Regras do Budismo Chan:

1- transmissão fora da escrita

2- cultivar uma independência das palavras

3- se dirigir até o coração do ser imediatamente

4- a contemplação de si mesmo

Ele faz barulhos, Lin Tsi. Assim como Lacan.

O homem de verdade: o homem sem poltrona.

A pessoa de verdade: a pessoa sem poltrona, a pessoa em movimento, postura existencial.

Uma postura existencial.

Postura.

Pessoa em movimento, numa postura existencial que autoriza o movimento.

Quando estou confortável na minha poltrona não estou de pé.

Há algo da verdade do sujeito que está fora do papel social.

Lacan falou muito da essência do ser.

O Budismo Chan foi semente, assim como a psicanálise?

Ir para a análise é como esse movimento de ficar em pé, sair do conforto que o papel social pode atribuir ao sujeito. Isso vem de uma decisão (de um pontapé? um grito? um barulho?)

O saber é uma história do corpo, uma experiência de saborear (budismo chan?)

Fé sem crenças. 

A Ética consiste em alinhar os atos e a essência do seu ser. 

o vazio não é um nada 

o silêncio não é um nada

Intervalo. Substância. 

Para Lacan isso tem uma preciosidade enorme. 

Ouvir o silêncio que se insere entre as linhas do blá blá blá. 

Este é o desafio do analista. 

A função poética é quando, antes de mais nada, acontece um som.

“o silêncio é música em estado de gravidez” Mia Couto.

O som do ser do sujeito é o estilo.

O que você escuta quando alguém diz?

Quem diz?

algo fica de fora como impossível de se submeter à linguagem